Manipulação de Fotografias em Sinistros: Impacto da Tecnologia e da Inteligência Artificial

A manipulação de fotografias é uma preocupação crescente no âmbito das peritagens e averiguações de sinistros. Com os avanços das tecnologias digitais e, mais recentemente, das ferramentas de inteligência artificial (IA), a capacidade de criar ou alterar imagens tornou-se tão sofisticada que identificar fraudes exige níveis de rigor técnico cada vez mais elevados. Neste contexto, é essencial explorar as possibilidades oferecidas pela IA, a importância dos metadados e as práticas recomendadas para lidar com estes desafios.

A Manipulação Digital nas Peritagens de Sinistros

As peritagens de sinistros baseiam-se frequentemente em provas visuais para avaliar danos, determinar responsabilidades e calcular indemnizações. Fotografias de veículos, imóveis ou outros bens sinistrados são elementos essenciais para fundamentar os relatórios e decisões.

Contudo, a manipulação destas imagens pode comprometer a credibilidade da análise. Ajustes simples, como a correcção de brilho ou contraste, são aceitáveis para melhorar a visibilidade de detalhes. No entanto, alterações mais profundas, como a adição ou remoção de elementos, podem conduzir a interpretações erradas. Em casos extremos, estas práticas podem ser usadas para cometer fraudes contra seguradoras, afectando o equilíbrio e a fiabilidade do sistema de indemnizações.

A Influência da Inteligência Artificial na Manipulação e Detecção de Imagens

A IA elevou a manipulação de imagens a um novo patamar. Tecnologias como deepfakes e modelos de geração de imagens permitem criar fotografias incrivelmente realistas de cenários que nunca existiram.

Exemplos de manipulação incluem:

Adição de danos inexistentes: Algoritmos podem gerar marcas de colisões, arranhões ou outros danos que parecem autênticos, mas que não correspondem à realidade.

Remoção de danos reais: Com a mesma facilidade, é possível apagar evidências de danos para apresentar um bem em melhores condições do que as reais.

Por outro lado, a IA é também uma aliada na detecção de fraudes. Ferramentas especializadas conseguem identificar alterações suspeitas, como inconsistências na iluminação, texturas ou sombras que não correspondem ao contexto da imagem. Modelos treinados em grandes volumes de dados são cada vez mais eficazes a distinguir imagens legítimas de manipuladas.

A Importância dos Metadados

Os metadados são informações incorporadas nos ficheiros digitais que descrevem características da imagem, como:

• Data e hora da captura;

• Localização (se o dispositivo tiver GPS activado);

• Configurações da câmara, como exposição e resolução;

• Histórico de edição.

Estes dados são essenciais para verificar a autenticidade de uma fotografia. Por exemplo, uma imagem apresentada como recente pode ter metadados que revelam que foi capturada anos antes ou que sofreu edições. Ferramentas de análise forense digital podem detectar estas inconsistências e expor tentativas de manipulação.

Práticas Recomendadas para Peritos e Seguradoras

Para mitigar os riscos associados à manipulação de fotografias, as entidades responsáveis pela peritagem devem adoptar medidas preventivas e correctivas, tais como:

Formação de profissionais: Capacitar peritos para identificar sinais de manipulação em imagens e usar ferramentas forenses apropriadas.

Plataformas seguras: Implementar sistemas que permitam o envio de fotografias exclusivamente através de aplicações oficiais, garantindo que as imagens sejam capturadas e transmitidas sem alterações.

Auditorias de imagens: Integrar ferramentas baseadas em IA para analisar automaticamente inconsistências nas imagens enviadas.

Valorização dos metadados: Exigir que todas as imagens submetidas contenham metadados completos e adoptar políticas rigorosas para rejeitar ficheiros suspeitos de manipulação.

Autenticidade em tempo real: Utilizar aplicações que capturem fotografias com mecanismos de autenticação instantânea, impedindo edições posteriores.

O Futuro da Peritagem Digital

O futuro das peritagens está a ser fortemente influenciado pela tecnologia. A detecção de manipulações será cada vez mais automatizada, reduzindo os tempos de análise e aumentando a precisão das avaliações. Além disso, tecnologias como blockchain poderão ser utilizadas para armazenar e verificar imagens de forma segura e transparente.

Apesar das crescentes possibilidades de fraude trazidas pela evolução tecnológica, as ferramentas de combate a estas práticas também se estão a tornar mais avançadas. A combinação de inovação tecnológica com processos de verificação robustos será essencial para preservar a integridade das peritagens e garantir decisões justas e fundamentadas.

Conclusão

A manipulação de fotografias em sinistros é um desafio significativo no sector das peritagens, mas também representa uma oportunidade de melhorar as práticas existentes. A compreensão do potencial da IA, associada à utilização estratégica de metadados e tecnologias de autenticação, pode ajudar a proteger o sistema de sinistros contra fraudes e assegurar decisões mais transparentes e fiáveis.