Breve História dos Seguros em Portugal

Breve História dos Seguros em Portugal

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O sector dos seguros desempenha um papel central na sociedade moderna, protegendo indivíduos, empresas e património contra os mais diversos riscos. Contudo, a história dos seguros em Portugal remonta a um passado longínquo, marcado por transformações profundas e momentos decisivos que moldaram a forma como entendemos e praticamos esta actividade nos dias de hoje.

Para gestores de sinistros, peritos e averiguadores, conhecer as raízes históricas do sector pode proporcionar uma perspetiva mais rica sobre os desafios e as responsabilidades que envolvem a gestão de riscos e a reparação de danos. Este artigo explora as origens e a evolução dos seguros em Portugal, com especial atenção para os momentos e eventos que definiram esta actividade.

As Origens dos Seguros em Portugal

Os primeiros indícios de prácticas semelhantes ao seguro em Portugal datam da Idade Média, quando as actividades comerciais marítimas começaram a florescer no país. Com os Descobrimentos Portugueses nos séculos XV e XVI, surgiu a necessidade de proteger mercadorias e embarcações contra os perigos do mar, como naufrágios, ataques de piratas e tempestades.

Nesta época, as apólices de seguro marítimo tornaram-se instrumentos cruciais para os mercadores. A primeira referência documentada de seguros em Portugal está relacionada com contratos marítimos de seguro realizados na cidade de Lisboa no século XIV. Estas apólices eram simples, mas já reflectiam a lógica que ainda hoje norteia o setor: a partilha de riscos.

O Papel das Misericórdias

Outro marco na história dos seguros em Portugal foi o papel desempenhado pelas Santas Casas da Misericórdia. Estas instituições, criadas no século XV, não só forneciam assistência social e hospitalar, mas também ofereciam modalidades de proteção que podem ser vistas como precursoras do seguro de vida. As Misericórdias geriam fundos para apoiar famílias em situações de doença, morte ou outras adversidades, representando uma forma primitiva de mutualismo.

A Regulamentação e o Desenvolvimento Moderno

O sector segurador começou a adquirir contornos mais definidos no século XVIII, especialmente com a influência dos seguros britânicos e franceses. Foi neste período que começaram a surgir as primeiras seguradoras formais em Portugal.

Em 1808, foi criada a Companhia de Seguros Bonança, uma das primeiras instituições seguradoras portuguesas, especializada em seguros marítimos e contra incêndios. Mais tarde, no século XIX, surgiram outras companhias, como a Fidelidade, que expandiram as suas operações para cobrir novos ramos, como seguros de vida e acidentes.

O desenvolvimento do sector foi também acompanhado por avanços legislativos. Em 1867, a publicação do Código Comercial Português incluiu disposições específicas sobre seguros, estabelecendo regras claras para contratos e obrigações entre segurados e seguradoras. Este foi um momento crucial que trouxe maior segurança jurídica para todas as partes envolvidas.

O Século XX: Expansão e Transformação

O século XX foi um período de rápida transformação para os seguros em Portugal. A industrialização e a urbanização trouxeram novos riscos, como acidentes de trabalho, incêndios urbanos e furto, que exigiram soluções inovadoras. Durante este período, o Estado também desempenhou um papel mais activo no sector, com a introdução de seguros obrigatórios, como o seguro automóvel, instituído em 1928.

A década de 1970 foi especialmente marcante, com a Revolução de Abril e a subsequente nacionalização de várias companhias de seguros. Este período trouxe desafios, mas também abriu caminho para a reestruturação e modernização do sector nos anos 80, com a privatização das seguradoras e a adaptação às normas europeias.

Os Desafios e as Oportunidades no Século XXI

Hoje, o sector segurador português enfrenta desafios complexos, como a gestão de riscos cibernéticos, as alterações climáticas e as mudanças demográficas. Para gestores de sinistros, peritos e averiguadores, estas mudanças representam tanto desafios como oportunidades para inovar nas práticas de avaliação, indemnização e prevenção de riscos.

A digitalização também trouxe uma nova era de transformação. Ferramentas como inteligência artificial e big data estão a redefinir a forma como os seguros são subscritos, geridos e analisados. Os peritos e averiguadores, em particular, têm agora acesso a tecnologias que permitem avaliações mais precisas e rápidas, transformando o papel tradicional de averiguação em algo mais estratégico e baseado em dados.

Lições da História

A história dos seguros em Portugal mostra-nos que esta indústria sempre foi moldada pela necessidade de adaptação aos riscos e às circunstâncias do momento. Da proteção dos mercadores marítimos ao uso de algoritmos para prever catástrofes, o sector dos seguros tem demonstrado uma capacidade única de evolução.

Para os profissionais que hoje trabalham no sector — gestores de sinistros, peritos e averiguadores —, compreender esta história é mais do que um exercício de curiosidade: é uma oportunidade para aprender com o passado e enfrentar os desafios futuros com confiança e inovação.

Resumo

A história dos seguros em Portugal é rica e repleta de marcos importantes que mostram a resiliência e a relevância desta actividade ao longo dos séculos. Desde os contratos marítimos da Idade Média até às soluções digitais do presente, o sector tem sido essencial para a proteção de pessoas e patrimónios.

Para os que estão na linha da frente da gestão de sinistros, peritagens e averiguações, esta história inspira um compromisso contínuo com a excelência e a adaptação. Afinal, proteger o que é valioso continua a ser uma das missões mais importantes da sociedade.